Na última segunda-feira (25) a UnB abriu as portas para a realização do 11º Seminário Pedagogia das Virtudes, que debateu o papel da universidade na promoção de valores e virtudes por meio da educação. O evento resultou de uma parceria entre a Comissão UnB.Futuro e o Movimento Pedagogia das Virtudes, que reúne entidades da Sociedade Civil e do Governo com o objetivo de difundir a promoção de valores éticos universais e da virtude nos seres humanos.
A sessão foi coordenada por Ulisses Riedel, presidente da União Planetária, e contou com a participação de Ivan Camargo, reitor da Universidade de Brasília, Isaac Roitman, coordenador da Comissão UnB.Futuro, e Gilberto Lacerda, professor da Faculdade de Educação da UnB.
De acordo com Riedel, o diálogo entre a Universidade de Brasília e o Movimento Pedagogia das Virtudes é uma grande conquista e um estímulo para os debates que se tem feito a respeito do assunto: “É uma alegria muito grande para o movimento Pedagogia das Virtudes fazer o seu 11º seminário dentro da UnB, já que é uma universidade tão destacada, que tem um papel importante no trabalho de trazer a cultura e os valores para a sociedade”.
Em sua exposição, o professor Gilberto Lacerda destacou a necessidade do ensino superior em se adaptar à atual configuração da sociedade. Segundo ele, com base nas ideias de Boaventura de Sousa Santos, a universidade passa por um momento de crise motivada por quatro dimensões: hegemonia, legitimidade, institucional e de cidadania.
No que diz respeito à sua hegemonia, Lacerda explicou que a academia perdeu sua exclusividade em relação à produção de conhecimentos e isso é uma consequência da dificuldade de aliar teoria à prática. Além disso, as instituições de ensino superior às vezes têm sua legitimidade questionada por insuficiência na produção de conhecimentos socialmente pertinentes. Um quarto aspecto seria o fato de a universidade ser desafiada a formar cidadãos efetivamente participativos.
O professor defende que as instituições de ensino superior devem migrar para um novo modo de produção de conhecimentos, que ultrapasse as barreiras do conhecimento meramente cognitivo profissional, focalizando também na cidadania e na participação. Para ele, essa “inovação edificante” deve integrar saberes locais e globais numa perspectiva cidadã e participativa que não considere a academia como algo isolado da sociedade.
Segundo Isaac Roitman, a deficiência da universidade também está refletida na precariedade do sistema educacional brasileiro. O maior problema, segundo ele, é que esse sistema não tem levado em conta a inserção e manutenção de valores e virtudes na educação de jovens e crianças. Esse processo, na visão de Roitman, deveria estar presente na formação dos indivíduos desde a primeira infância.
Para exemplificar, Isaac Roitman apresentou as 20 metas estabelecidas pelo Plano Nacional de Educação, do Governo Federal. Mostrou que essas metas não levam em conta a formação ética e cidadã como parte da educação dos alunos. Como consequência, na visão de Roitman, teremos um país cada vez mais desigual e menos cidadão. “O exercício da cidadania vai muito além do voto nas eleições. Passa por ações que visam melhorar a vida dos nossos semelhantes”, afirmou.
“A missão da universidade é formar professores multiplicadores das noções de cidadania e pensar uma pedagogia que estimule o desenvolvimento das virtudes, além de fomentar eventos que discutam esse tema”, definiu Roitman.
Isaac Roitman também destacou a importância das Artes e do Esporte para a difusão de valores como a ética, a justiça, a solidariedade e a fraternidade, e apresentou algumas iniciativas realizadas pela UnB. Segundo ele, “a nossa função como ser humano, especificamente como educador, é semear a conquista da felicidade”.
Além de sistematizar as contribuições dos outros palestrantes, o reitor Ivan Camargo acrescentou que é necessário reconhecer que a educação no Brasil está mal e que é preciso tomar atitudes. Fazendo referência ao livro de Richard Feynman (Você deve estar brincando, Sr. Feynman!), para o reitor, os alunos devem ser encorajados a buscar e aplicar conhecimentos no lugar de apenas decorar fórmulas.
Segundo o professor Ivan Camargo, “é preciso que haja mais interação entre as universidades e as instituições ligadas à educação fundamental”. Para Camargo, a educação superior “tem o papel fundamental de preparar professores que possam ensinar de maneira diferente, que estimule os alunos a pensarem de forma cidadã”, concluiu.
Leia o texto apresentado por Gilberto Lacerda.
Acesse a apresentação de slides de Isaac Roitman.