A gestão da diversidade na Universidade foi pauta da sexta sessão de 2014 da Comissão UnB.Futuro, realizada na última segunda-feira. Ute Klammer, pró-reitora de Gestão da Diversidade e de Relações Internacionais da Universidade de Duisburg-Essen, na Alemanha, foi a conferencista convidada e relatou as políticas que a instituição tem adotado com relação a essa temática.
Para Klammer, apesar das grandes diferenças entre os contextos brasileiro e alemão, há também semelhanças que possibilitam a troca de experiências entre os dois países no que diz respeito à promoção da diversidade em suas respectivas instituições de ensino superior. “Estou muito interessada nesse intercâmbio com a UnB, já que o Brasil tem uma larga tradição de experiência com diversidade”, afirmou. Segundo ela, é necessário que lidemos com as diferenças naturais que nós, seres humanos, possuímos. Por isso, as instituições devem se preocupar com a diversidade não só como uma questão de negócios, mas também em seu aspecto social.
Para Ute Klmmer, a diversidade contribui economicamente para as instituições gerando criatividade, solução de problemas, flexibilidade das estruturas, marketing, integração dos ambientes e diminuição de custos socialmente, esse tipo de política pode gerar justiça, participação e diminuição da discriminação. Por isso, na visão da a pró-reitora, iniciativas que promovam a gestão da diversidade dentro da universidade promovem uma educação de maior qualidade.
A Universidade de Duisburg-Essen, localizada na região do Ruhr, foi a primeira instituição de ensino alemã a adotar uma pró-reitoria de diversidade, iniciativa que incentivou outras universidades a fazerem o mesmo. O contexto no qual a instituição está inserida, exigiu que algumas políticas de promoção da diversidade fossem implementadas.
Um dos aspectos dessa realidade está ligado ao fato da Universidade contar com uma grande quantidade de estudantes imigrantes. De acordo com Klammer, 16% dos alunos da instituição são estrangeiros e muitas vezes têm dificuldades ligadas a fatores diversos, principalmente culturais. Para exemplificar essa questão, a palestrante citou o caso de uma imigrante mulçumana que ao entrar para a universidade com o tempo acabou abandonando os costumes dessa cultura, o que para a sua família foi motivo de frustração.
Nesses casos, as estratégias utilizadas pela pró-reitoria de diversidade pretendem integrar esses estudantes à academia sem que percam os vínculos com suas famílias e tradições, com programas que viabilizam a realização, por exemplo, de feiras internacionais e a apoio às famílias.
Outra situação frequente na região é a de famílias que possuem pouco ou nenhum contato com a universidade. Estudantes que provêm dessas famílias, intitulados “estudantes da primeira geração”, muitas vezes podem ter problemas de inserção na educação superior. Nesses casos, as ações da pró-reitoria de diversidade buscam trabalhar com as escolas de ensino médio e as famílias, no sentido de incentivar que esses jovens entrem na universidade sem perder os vínculos com seus familiares.
Pela experiência de Ute Klammer, ao implementar programas específicos para essas populações, os gestores devem tomar algumas precauções. Uma delas é procurar conhecer o perfil dos estudantes nessa situação para entender as suas diferenças e especificidades. Outro cuidado é evitar que esses estudantes sejam rotulados de alguma maneira. Por isso, segundo ela, é mais interessante que se pensem iniciativas que afetem diretamente esse público, mas que sejam abertas a toda aos estudantes em geral.
Um grande desafio ligado a essa política é a capacitação dos professores e funcionários da instituição sobre a importância da diversidade, uma vez que ainda existe muita resistência sobre o tema. Segundo Klammer, “nós temos que aprender a lidar com a diversidade e ensinar os que ensinam” e essa interação tem sido mais fácil com aqueles professores que já estão inseridos no debate e com aqueles que possuem menos tempo de universidade. Por isso, na visão dela, é muito importante que esse debate esteja presente nas pesquisas acadêmicas.
Outros temas como diversidade sexual e racial são menos trabalhados dentro da pró-reitoria da Universidade de Duisburg-Essen, uma vez que essas não são questões que geram grandes problemas naquela instituição, dado o contexto em que está inserida. Apesar disso, a instituição dispõe de ferramentas para diminuir a discriminação, como uma ouvidoria e um setor de apoio a deficientes físicos.
Na Universidade de Brasília, outros temas recebem mais atenção, uma vez que são problemas mais presentes na nossa sociedade. A recém-criada Diretoria de Diversidade da UnB (DIV), subordinada ao Decanato de Assuntos Comunitários (DAC), possui coordenações para tratar especificamente de quatro questões: de identidades sexuais, indígena, negra e das mulheres. De acordo com o coordenador da questão negra, Nelson Inocencio, um dos grandes desafios da DIV é “encarar os problemas que as minorias têm por serem minorias”.
Uma das questões de grande destaque desse departamento são as cotas raciais. Há mais de 10 anos, a UnB foi pioneira na implementação dessa política e desde então houve muita discussão sobre esse tipo de inserção e a Universidade deliberou por continuar com a política afirmativa. Segundo Klammer, esse tipo de iniciativa não é implantada nas universidades alemãs porque há impedimentos legais para que isso ocorra.
A sétima sessão da UnB.Futuro em 2014 foi resultado de uma parceria entre a Comissão, o Centro Alemão de Ciência e Inovação São Paulo (DWIH-SP) e o Escritório para América Latina da Aliança Universitária da Região do Ruhr (UAR).
Confira a exposição apresentada por Ute Klammer em sua palestra.