Com o objetivo de discutir a questão das drogas de forma mais próxima e integrada ao público, professoras da Universidade de Brasília e ativistas realizaram o debate Juventude, drogas e violência nessa quinta-feira (25), no Salão de Atos da Reitoria.
A iniciativa contou com a presença das professoras Andrea Gallassi, do Centro de Referência sobre Drogas e Vulnerabilidades Associadas da Universidade de Brasília, Faculdade UnB Ceilândia (CRR/FCE), e Haydée Caruso, do Departamento de Sociologia da UnB. Também participaram o assistente social Fábio Félix e o coordenador de Relações Institucionais da Plataforma Brasileira de Políticas de Drogas (PBPD), Gabriel Elias.
Realizada pela primeira vez no Brasil, a campanha Acolha, não puna integra iniciativa global que acontece simultaneamente em diversos países. O projeto foi lançado no dia 25, véspera da publicação do relatório anual da ONU sobre drogas.No dia 26 de junho, também é celebrado o Dia de Combate às Drogas. “Os movimentos sociais aproveitam a data para contestar a ‘guerra às drogas’”, lembra Gabriel Elias.
O debate na UnB buscou abordar uma perspectiva integradora sobre a questão das drogas. Um dos pontos mais criticados foi a relação de causa e efeito que é atribuída a juventude e drogas.
A professora Haydée Caruso afirmou que o número de estudiosos do assunto, nas Ciências Sociais, cresceu nos últimos 20 anos. “Apesar de termos avançado na produção acadêmica, não tivemos expressiva diminuição nos índices de criminalidade no país”, pontua Haydée.
Para Gabriel Elias, é preciso produzir ainda mais conhecimento sobre o tema no país. Ele lembrou que, apesar do atraso na discussão, avanços foram alcançados, como o projeto de lei de autoria do deputado federal Jean Wyllys (PSOL/RJ), que propõe a legalização e a regulamentação da produção da maconha no Brasil.O coordenador da PBPD afirmou que existe relação entre o aumento do número dos encarceramentos no Brasil e o período de vigência da Lei de Drogas no país, em vigor desde 2006. Hoje, há mais de 600 mil presos no Brasil e, desse total, a maioria (27%) responde por tráfico de entorpecentes. Outros crimes, como roubo ou homicídio, correspondem, respectivamente, a 21% e 14% do total.
Fábio Félix, servidor da Secretaria da Criança do Governo do Distrito Federal, expôs a experiência como assistente social no extinto Centro de Atendimento Juvenil Especializado (Caje). “No Brasil, tem-se a impressão de que o jovem é inimputável, mas o que ocorre é uma responsabilização especial do jovem. Ele é punido, sim”.
Para os presentes, a questão envolve também abordagem educacional, para além do âmbito criminal. De acordo com a professora Andrea Gallassi, muitos educadores e gestores estigmatizam o jovem que se encontra em conflito com a lei. “Para alguns profissionais, esses jovens são vistos como ‘profecias que se cumprem’”, complementou Haydée Caruso.
DIFERENTES ABORDAGENS – A professora de Saúde Coletiva Dais Rocha compartilhou com os presentes sua experiência nas regiões administrativas de Itapoã e Paranoá com o projeto Fotovoz. Desde 2009, o projeto multidisciplinar busca criar políticas públicas por meio da prática fotográfica.
“Os jovens fotografam tudo aquilo que consideram ‘protetor’ ou ‘ameaçador’ em suas vidas. As fotografias resultantes são exibidas em uma exposição. Por fim, os agentes responsáveis pelas políticas públicas demandadas pelos jovens vão à abertura da exposição”, explica Dais.