Na última segunda-feira (11), o auditório da Reitoria recebeu a segunda sessão pública de 2015 da Comissão UnB.Futuro. Intitulada “Energia, Água e a universidade do futuro”, a mesa de debate foi conduzida por Jailson de Bittencourt Andrade, titular da Secretaria de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento (Seped) do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação.
A conferência contou ainda com as presenças do reitor Ivan Camargo, do decano de Pesquisa e Pós-Graduação da UnB, Jaime Santana, do presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Carlos Nobre, do professor emérito da UnB Isaac Roitman e do docente da Faculdade de Comunicação Fernando Oliveira Paulino.
Carlos Nobre, a convite do reitor Ivan Camargo, abriu a sessão e parabenizou o atual secretário da Seped pelo posto assumido neste ano. O presidente da Capes afirmou estar presente para “aprender com o professor Jaílson”. Nobre acrescentou ainda que “o sonho do burocrata em Ciência e Tecnologia é aprender com a Universidade, pois este é o lugar da sanidade” e provocou risadas entre os presentes. Em seguida Jaime Santana, mediador do debate, convidou o presidente da Capes a voltar à UnB.Futuro para palestrar sobre o futuro da pós-graduação no Brasil.
Isa Lima/UnB Agência |
O atual presidente da Capes, Carlos Nobre, esteve presente na UnB pela primeira vez. |
O debate recebeu enfoque principal no binômio “energia-água” que, para Andrade, é “o mais importante desafio humano-tecnológico, pois repercute em todos os aspectos da vida”.
O desafio mencionado por Andrade refere-se à necessidade de produzir energia diante da crise na gestão de recursos hídricos em um país cuja matriz energética depende majoritariamente da água.
Para ilustrar, o pesquisador baiano mencionou os casos das regiões Sudeste e Norte do Brasil. No Sudeste, região mais populosa e mais povoada do país, existe uma demanda muito grande por energia elétrica, enquanto que a capacidade de expansão para a produção de energia é muito restrita. O Norte segue lógica inversa. Jailson apontou que, para resolver esta assimetria, seria necessário pensar em uma integração maior na dinâmica entre produção, estocagem e distribuição da energia.
AGRICULTURA – Outro setor que impacta o consumo de água é a agricultura. De acordo com dados publicados pela Agência Nacional de Água, aproximadamente 72% da água captada no Brasil vão para a produção agrícola. Enquanto o consumo humano direto corresponde a aproximadamente 4% do total.
Andrade acrescentou que é preciso enxergar criticamente a relação que existe entre a produção de alimentos e o consumo de recursos hídricos: “Se observarmos o ‘mapa da soja’ veremos que ela é plantada em regiões próximas a aquíferos, como o Guarani.” Andrade fez um alerta: “O Brasil ‘fertiliza’ a bacia do Rio da Prata, estamos poluindo suas águas com agrotóxicos”.
Andrade adicionou que a forma como os assuntos são abordados pelos veículos de comunicação é insatisfatória. Para Jailson, dificilmente os assuntos são tratados de forma “multidimensional a fim de observar a relação intrínseca existente entre água, energia e alimentos”.
EDUCAÇÃO – Sobre algumas campanhas educacionais realizadas pelos governos estaduais e federal ao longo dos últimos anos, Jailson foi bastante crítico: “existe um grande marketing, mas que não entrega a mensagem. Campanhas anteriores tinham repercussão e comunicavam, geravam resultados. Ninguém queria ser comparado ao Jeca Tatu”.
Mesmo assim, Jailson analisou as políticas públicas para produção de energia e gestão de recursos hídricos do país com distanciamento científico. Ele defendeu que o Brasil tem buscado alternativas em energias limpas como as pesquisas com biocombustíveis e o desenvolvimento de parques eólicos ou de produção de energia solar.
Isa Lima/UnB Agência |
Da esquerda para a direita: o professor Fernando Oliveira Paulino (FAC), o decano Jaime Santana (DPP), Jailson Andrade (Seped/MCTI), o reitor Ivan Camargo, Carlos Nobre (Capes) e o professor emérito Isaac Roitman. |
Andrade apontou ainda que a política energética no país “tem sido, no mínimo, errática”. Ele citou o exemplo do Parque Eólico de Caetité, no interior da Bahia, capaz de fornecer energia elétrica para uma cidade com até três milhões de habitantes, mas que não teve as linhas de transmissão construídas até hoje e por isso não distribui o que produz.
A conferência integra um ciclo de palestras realizadas pela comissão UnB.Futuro, parceria entre o Decanato de Pesquisa e Pós-Graduação (DPP) e o Núcleo do Futuro (n.Futuros/CEAM).
Assista à cobertura da UnBTV, na íntegra.