Um programa de cotas para alunos oriundos de escolas públicas foi recentemente proposto para as universidades estaduais paulistas. Para reforçar a preparação dos cotistas, haverá u colégio universitário, inspirado nos community colleges dos EUA. Matriculados em cursos superiores de ciclo curto, com educação à distância, esses estudantes competirão por vagas nas carreiras tradicionais. Intelectuais e imprensa sulista apressaram-se em elogiar a iniciativa. Editorial da Folha de S. Paulo (20/12/2012): "A ideia [do colégio universitário] é a inovação mais promissora da proposta paulista". Em entrevista (Vejablog: 22/12/2012), Eunice Durham, antropóloga uspiana, ex-presidente da Capes, celebra a adoção do modelo college como "proposta revolucionária para o ensino superior brasileiro".

 O colégio universitário talvez seja iniciativa revolucionária para as universidades paulistas, mas não é novidade histórica no Brasil nem no mundo. Nos EUA, junior colleges existem há mais de um século.. No Canadá, Colléges d´enseignement général et profissionnel (Cegep) oferecem um ciclo inicial como requisito indispensável ao acesso ás universidades públicas desde 1967. Em 2002, foi implantado o Cegep@distance, com modalidades não presenciais de educação. na Venezuela, atualmente 1390 aldeas universitárias funcionam em 334 municípios. Em 2005 Cuba iniciou um programa de universalização da educação superior chamado La Nueva Universidad, cuja principal estratégia compreende a implantação de colégios universitários, chamados Sedes Universitarias Municipales (SUM).

No Brasil, o conceito de colégio universitário foi proposto por Anísio Teixeira em 1952 e constituiu pilar do projeto de reforma universitária da UNE, na década seguinte.. Em 2007, um modelo de ciclos foi implantado na UFABC, com bacharelado inicial em Ciência & Tecnologia. Na Bahia, a aprtir de 2008, viabilizamos na UFBA a oferta plena de Bacharelados Interdisciplinares (BI) em todas as áreas de formação. No próximo ano, perto de 20 mil vagas em educação superior serão oferecidas em bacharelados de primeiro ciclo no Brasil, a maioria na Bahia. No próximo ano, os BI serão a única forma de ingresso a alguns cursos da UFBA, aos cursos de saúde da UFRB e a todos os cursos da nova UFSBA.

Na UFSBA (Universidade Federal Sul da Bahia), a etapa de formação geral dos BIpoderá ser feita em colégios universitários (Cuni), unidades descentralizadas de educação superior, destinadas a egressos do ensino público nos municípios. A Rede Cuni será articulada à rede estadual de ensino médio, com equipamentos de tele-educação de última geração, em conexão de alta velocidade. Equipes docentes se deslocarão aos municípios para avaliação presencial de aproveitamento com os mesmos parâmetros e avaliação de componentes curriculares cursados nos campi-sedes. Serão oferecidas cinco mil vagas nos Cuni, além de 1300 vagas diretas nos BI nas sedes. Concluintes do ciclo curto inicial receberão diploma de formação geral universitária, na modalidade curso sequencial; ao completar o BI nas respectivas áreas de conhecimento, poderão prosseguir em cursos profissionais de segundo ciclo nos campi-sedes. Aproveitando a conexão digital, os colégios universitários poderão também operar como centros/pontos de cultura e de iniciação científica, artística e tecnológica, tornando-se focos da dinamização de todo o ensino público, do fundamental ao superior, e dos cenários culturais do interior da Bahia.

A proposta paulista é tímida ao abrir apenas duas mil vagas em colégios universitários, numa oferta total de 31430 vagas em universidades públicas estaduais. Pior, é segregacionista, pois adota o sistema de ciclos apenas para pobres, negros e indígenas. Os Conselhos Universitários de Unicamp, Unesp e USP poderão ampliar a proposta, aplicando-se a todos os cursos e a todos os seguimentos sociais. Assim, as estaduais paulistanas serão muito bem-vindas para reforçar o grupo de universidades brasileiras antenadas com a vanguarda acadêmica mundial.

Esperançoso, proponho uma paródia glauberiana de inspiração anisiana sobre verso caetano: para vencer a província, precisamos ser compreensivos frente à arrogância sutil da província.


 Artigos de Naomar Almeida Filho:

> Colégios universitários: Anísio Teixeira vive!

> O modelo da Universidade Nova é, sem dúvida, mais inclusivo

 


Zapping - UnBTV

Na quarta Sessão Pública da comissão UnB.Futuro Eric Rabkin discutiu as perspectivas da educação para o futuro. Veja a matéria produzida pela UnBTV sobre o evento.

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