“Você é um cientista jornalista ou um jornalista cientista?”, perguntou um aluno do curso de Jornalismo para Marcelo Gleiser, em conversa do físico com a equipe que produz a revista Darcy. O bate-papo foi na tarde desta quarta-feira (23), no Salão de Atos da Reitoria.
Gleiser, especialista em Cosmologia, Física Não Linear e Astrobiologia, autor de livros voltados para a popularização da ciência, colunista da Folha de S.Paulo, professor do Dartmouth College (EUA), esteve na UnB por quase todo o dia. Pela manhã, o cientista fez uma palestra no Auditório Dois Candangos para um público majoritariamente de estudantes do ensino médio de Ceilândia. Uma plateia atenta estava sendo seduzida a despertar seu interesse pela ciência, “a eterna luta contra o desconhecido”, como definiu o professor Sérgio Mascarenhas de Oliveira, da Universidade Federal de São Carlos (UFSC).
A fala do professor Mascarenhas aconteceu no encontro da tarde. Além dos alunos da disciplina Revista Científica, coordenada pelo professor Paulo Paniago (FAC), várias pessoas de outros setores da UnB lotaram o Salão de Atos para ouvir Marcelo Gleiser falar sobre como levar o conhecimento científico para o público em geral. “Existem várias maneiras de se falar de átomos e elétrons”, afirmou o físico. “O mais importante é o cuidado que tem que se ter com a veracidade da informação”.
Para Gleiser, é comum a ocorrência do que ele chamou de exagero de retórica. “O fato da fala vir de um cientista, não implica, necessariamente, que seu conteúdo seja correto”, advertiu. O professor Mascarenhas, físico-químico, atacou o que ele chama de “jornalismo de porta de cadeia”, que prioriza notícias de violência e desastres e geralmente divulga a ciência de forma falha. Para o docente deveria haver nos cursos de Jornalismo, a exemplo dos de Medicina, a prática de residência, onde o aluno já formado presta serviço durante um determinado período, sob o monitoramento de profissionais.
O decano de Pesquisa e Pós-Graduação, Jaime Santana, convidou Marcelo Gleiser a integrar o programa Ciência Sem Fronteira, desenvolvendo projetos na Universidade de Brasília. Mesmo sem a expectativa de resposta imediata, o físico, que não se considera um jornalista, mas um divulgador da ciência, se mostrou animado com a ideia e disse que a estudará com carinho.