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Identificar os desafios com os quais a Universidade de São Paulo (USP) precisa lidar para apoiar a sociedade no enfrentamento das mudanças trazidas pelo século XXI foi o objetivo do seminário "O Futuro da USP", realizado no dia 12 de setembro pelo Programa Supernova, criado por docentes do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) e da Escola Politécnica (Poli) da USP, com apoio da Dow Química. Compareceram ao evento, realizado no auditório do prédio do ICB III, cerca de 60 pessoas, a maioria docentes da própria USP.

"Refletir sobre o futuro da USP transcende o âmbito da universidade porque a USP é nossa referência. Para onde for a USP vai nosso sistema universitário", afirmou Isaac Roitman, professor da Universidade de Brasília (UnB) e coordenador do Núcleo de Estudos do Futuro da instituição. Como debatedor, o docente apresentou a iniciativa Comissão UnB.Futuro, um think thank que se originou da comissão organizada para promover os 50 anos da UnB.

O segundo debatedor foi o professor da Poli, Guilherme Ary Plonski, que propôs uma reflexão sobre o que a USP deve almejar ser nesse século: uma instituição ou uma organização. "Toda organização almeja se perenizar. Quando uma organização consegue que segmentos influentes da sociedade a olhem como algo vital, ela passa a ser defendida por eles, e não apenas por aqueles que se beneficiam da sua existência. Esse estágio é quando deixa de ser organização para ser instituição", explicou. "O que devemos fazer para que a USP se torne, volte ou continue a ser uma instituição?"

As palestras - Para o professor Roitman, apesar de ser difícil mudar profundamente universidades já constituídas e tradicionais como a USP, é possível pensar em alterações no modelo. "Podemos também planejar novas universidades que tenham modelos inovadores que possam, depois de um tempo, serem transferidos para outras instituições, caso mostrem resultados positivos", sugeriu.
Para ele, algumas questões já presentes requerem inovações. Uma delas é o papel da modalidade ensino presencial versus ensino a distância. A universidade precisa pensar seu modelo de aula considerando as novas tecnologias e a ampla disponibilidade de conhecimento fora das salas de aula.

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Outro ponto crítico é a manutenção do atual padrão de carreira universitária. Os docentes precisarão manter o foco na carreira de pesquisador se quiserem progredir na vida profissional? O sistema quantitativo de avaliação que considera o número de artigos científicos publicados é o mais adequado para avaliar um docente?

Outra tendência presente é o aumento das interações da universidade com outras instituições de pesquisa, locais, nacionais e do exterior. É preciso pensar como será esse relacionamento, considerando que a universidade do futuro pode ser não apenas um lugar físico no espaço geográfico, mas representar um conceito, ou seja, uma rede unida virtualmente na busca de um saber, e não só na atuação para formar pessoas no ensino superior. A universidade também precisa refletir sobre como vai se relacionar com o setor produtivo e o estado.

O professor Guilherme Ary Plonskiy apontou outros desafios que a USP e entidades do ensino de terceiro grau estão enfrentando no novo século. Com base em relatório sobre o ensino superior mundial da Unesco, a entidade para educação, ciência e tecnologia da Organização das Nações Unidas (ONU), ele disse que a ampliação do acesso será uma das grandes questões. No ano de 2000, eram 100 milhões de alunos no ensino superior. Projeções indicam que em 2030 serão 414 milhões, o que requer expansão da infraestrutura e do número de docentes.

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"Isso requer novos padrões de financiamento", afirmou. Para tratar desse tema, é preciso inclusive refletir sobre se, afinal, ensino superior é um bem público ou privado. "Crescentemente, há uma defesa pela ideia de que quem pode deve pagar pelo ensino superior", lembrou. As universidades precisam lidar com a questão da redução do custo das atividades, fazendo ao mesmo tempo uma gestão de demanda crescente, marcada por mais alunos em sala e horários mais ocupados.

As mudanças pelas quais passam as universidades vêm gerando diversificação do sistema de ensino superior e maior mobilidade para mais grupos. Essa evolução também trouxe o sistema de classificações, rankings. "A competição estimula excelência, mas reduz senso comunitário e compromete valores básicos no esforço de ganhá-la", disse, citando um impacto negativo das mudanças detectado pela Unesco em seu relatório.

Outro assunto que envolve a universidade do século XXI são os impactos da globalização, advindos da economia mundial integrada e da evolução das tecnologias de comunicação e informação, especialmente a internet. Hoje a universidade lida com as redes globais de conhecimento, o inglês se firmou como língua franca, aumentou a mobilidade de estudantes e docentes.

Como administrar cooperação internacional e estabelecer operação física no exterior nesse contexto é um desafio cada vez mais urgente. Outro é assegurar a qualidade diante da assimilação e dos processos de integração mundial por meio de redes. Também há um movimento de concentração de recursos básicos da vida acadêmica, como acontece com as revistas e jornais científicos indexados e bancos de dados, em sua maioria publicados ou gerenciados nos países mais desenvolvidos. Segundo Plonski, isso aumenta a tensão entre centro e periferia.

A profissão acadêmica hoje está sob estresse e o ambiente de pesquisa mudou bastante também. A pesquisa disciplinar, hierárquica, com agenda definida pela comunidade, a pessoa trabalhando por anos naquela mesma área, foi substituída por uma pesquisa orientada pela necessidade da sociedade, com equipes de trabalho móveis, que concluem um projeto e partem para outro, nem sempre no mesmo tema ou área. Prolifera o uso do ensino à distância, com os MOOCs (Massive Open Online Courses) e a universidade deve pensar em como aproveitar essa modalidade. Há diversos entes novos no sistema de ensino superior, como incubadoras, aceleradoras e parques tecnológicos. "Precisamos pensar em como transformá-los em espaço de ensino", disse.
Balanço - Para os coordenadores do seminário, o evento teve um resultado positivo. "Vivemos uma realidade complexa, com muitos problemas, e precisamos refletir, discutir e procurar por soluções. Queremos fazer disso uma rotinas para docentes e estudantes, precisamos ter um tempo para pensar em nosso próprio futuro, e iniciativas como essa vão tentar criar espaço e tempo para essa reflexão", disse o professor e vice-diretor do ICB, Luís Carlos Ferreira.

Para o professor da Poli, José Antonio Lerosa de Siqueira, o seminário foi um bom ponto de partida. "As palestras foram complementares, na qual uma trouxe a visão do biólogo, o que é possível pensar sobre o futuro, e a outra do engenheiro, sobre o que devemos enfrentar para chegar lá", analisou. "A universidade precisa ser o locus do pensamento crítico e a valorização desse aspecto foi a mensagem mais importante do seminário. Precisamos levar os temas em discussão na USP para fora da universidade, pois são de interesse da sociedade. A USP é uma entidade importantíssima e vai conseguir lidar com esses desafios", concluiu.

Assista aos vídeos da íntegra do evento:
Vídeo da palestra de Isaac Roitman
Vídeo da palestra de Guilherme Ary Plonski
Vídeo do momento de debate

 


Zapping - UnBTV

Na quarta Sessão Pública da comissão UnB.Futuro Eric Rabkin discutiu as perspectivas da educação para o futuro. Veja a matéria produzida pela UnBTV sobre o evento.

Coordenação:

Decanato de Pesquisa e Pós-Graduação (DPP),  em parceria com o Núcleo do Futuro (n.Futuros/CEAM)

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