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Na segunda-feira, dia 26 de maio, um grupo de pesquisadores se reuniu com o professor José Luis Cordeiro, fundador da Singularity University, nos Estados Unidos, a fim de debater temas ligados aos impactos que as tecnologias do futuro podem gerar em diversos setores.

Confira o vídeo do debate na íntegra.

O encontro foi uma continuação do debate iniciado por Cordeiro no dia 1º de abril, quando participou de sessão da UnB.Futuro que tratou de estudos ligados à Singularidade e ao desenvolvimento de tecnologias em diversas áreas do conhecimento. Veja aqui mais informações.

No evento desta semana, José Luis Cordeiro tratou principalmente das questões ligadas ao desenvolvimento de ferramentas tecnológicas que viabilizem a geração de energias renováveis, tais como a solar e a eólica. Especialista no assunto, Cordeiro defendeu a utilização dessas tecnologias e contou que a Califórnia atualmente é a região que mais produz esse tipo de energia.

Segundo ele, os países, inclusive o Brasil, deveriam investir mais nesse tipo de geração, uma vez que são ferramentas cada vez mais baratas e eficientes, e tendem a se desenvolver mais rapidamente a cada dia. Isso porque, na visão do pesquisador, as tecnologias sofrem mudanças exponenciais e não lineares.

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Para explicar esse crescimento exponencial, Cordeiro deu o exemplo dos aparelhos celulares, que há cerca de 10 anos eram utilizados por menos de 1% da população e eram caros. O crescimento dessa tecnologia se multiplicou de tal forma que hoje quase 100% da população podem ter acesso a esses aparelhos facilmente e a preços muito mais competitivos. Para ele, a tendência é que os aparelhos se tornem mais modernos e baratos num tempo cada vez menor, e o mesmo aconteceria com os outros tipos de tecnologias, como é o caso daquelas voltadas para a geração de energias renováveis.

Para o pesquisador, “somos parte da última geração de humanos que dirigem”. Segundo ele, é cada vez mais crescente o desenvolvimento de pesquisas com carros autônomos – que não precisam ser conduzidos manualmente. Além disso, afirmou que os motores elétricos são cinco vezes mais eficientes que aqueles que utilizam combustíveis, sem contar que o preço da eletricidade é menor do que o desses combustíveis: “os carros a gasolina nunca conseguirão competir com a eficiência dos elétricos”.

Com relação à opção do Brasil por explorar o pré-sal, o pesquisador afirmou que essa decisão é equivocada uma vez que “o pré-sal é a energia errada no tempo errado”. Para Cordeiro, o investimento na exploração de combustíveis fósseis vai à contramão das pesquisas que vêm sendo desenvolvidas no setor e essa escolha foi pautada em fatores políticos, e não econômicos.

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Segundo José Luis Cordeiro, “há 10 anos o petróleo já era mais caro e as alternativas não eram viáveis, mas hoje já valem a pena porque a tecnologia se desenvolveu e continuará se desenvolvendo exponencialmente”.

A fim de sugerir outra possibilidade para o Brasil, Cordeiro deu o exemplo da Alemanha, que em 10 anos aumentou de 0% para 30% a geração de energias sustentáveis. E isso num país onde o consumo energético, em termos relativos, é maior do que no Brasil. No que diz respeito à geração hidrelétrica de energia, o pesquisador afirmou que o Brasil é um dos poucos países que têm a possibilidade de explorar esse tipo de recurso. Por isso, é uma possibilidade que deve ser explorada, mas com cautela, dadas as questões ecológicas envolvidas.

O argumento do professor Cordeiro foi debatido por pesquisadores presentes à mesa. Um deles foi o Presidente da Sociedade Brasileira de Biotecnologia, Luiz Barreto de Castro, que defendeu que a utilização de plantas para a geração de energias alternativas poderia ser muito mais eficaz, uma vez que realizam a fotossíntese de maneira gratuita. Para Castro, ainda falta que se invista no desenvolvimento de pesquisas no setor de biotecnologia, e essa seria a forma mais eficaz de se produzir energia.

Cordeiro ponderou que o problema de se utilizar plantas para a geração de energia é que elas possuem certa ineficiência em relação ao silício – material utilizado na fabricação de componentes eletrônicos. Segundo ele, a fotossíntese das plantas produz de 1 a 8% de combustível, e isso é baixo se comparado, por exemplo, a um painel solar, com o qual se pode conseguir até 45% de aproveitamento. Isso se dá, segundo ele, porque as plantas, por serem seres vivos, utilizam parte da energia que produzem.

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Outro assunto tratado por José Luis Cordeiro foi o das eleições presidenciais na América Latina. O pesquisador estudou, por meio do Millennium Project, a evolução econômica de países latino-americanos desde 1810. De acordo com os resultados, essas economias cresceram exponencialmente desde essa época e isso se deve ao fato das sociedades aprenderem a crescer independentemente de suas situações políticas.

José Luis Cordeiro afirmou que em breve passaremos da condição de humanos para o que chama de “pós-humanos”, uma geração em que as máquinas e as ferramentas de inteligência artificial superarão a capacidade de pensar que temos atualmente. Segundo o pesquisador, essas mudanças são inevitáveis e ocorrerão por mais que parte da sociedade não as aceite.

Para o professor, estamos sempre em evolução e somos muito mais éticos hoje do que éramos há dois ou cinco mil anos. Ele explicou que “antes da Revolução Industrial a sociedade vivia com muito mais pobreza e miséria e, no futuro, a inteligência artificial com certeza será capaz de resolver esses problemas de forma ética”.

Essas afirmações de José Luis Cordeiro geraram debates polêmicos. Alguns dos pesquisadores presentes argumentaram no sentido de refletir sobre a forma como a sociedade se apoderará dessas novas tecnologias e se não serviriam mais ao capital financeiro que à resolução dos conflitos sociais que afligem a população.

Alguns dos presentes também colocaram em debate a questão das previsões para o futuro, uma vez que em muitos casos as assertivas não se comprovam com o passar do tempo. Nesse aspecto, Cordeiro ressaltou que o nosso pensamento linear vai de encontro ao crescimento exponencial das tecnologias, e que por isso não é possível prever o que vai acontecer. Apesar disso, afirmou que previsões embasadas em pesquisas científicas bem realizadas podem ser posteriormente verificadas.

Segundo Isaac Roitman, coordenador da Comissão UnB.Futuro, o diálogo com José Luis Cordeiro foi bastante produtivo e resultou num verdadeiro debate acadêmico, uma vez que colocou na mesa a discussão de diferentes visões.


Zapping - UnBTV

Na quarta Sessão Pública da comissão UnB.Futuro Eric Rabkin discutiu as perspectivas da educação para o futuro. Veja a matéria produzida pela UnBTV sobre o evento.

Coordenação:

Decanato de Pesquisa e Pós-Graduação (DPP),  em parceria com o Núcleo do Futuro (n.Futuros/CEAM)

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