Nesta segunda (3), a sessão da Comissão UnB.Futuro contou com a presença de Mozart Neves Ramos, ex-reitor da Universidade Federal de Pernambuco e membro do Conselho Nacional de Educação. Ao confrontar dados que mostram o Brasil como a sétima economia do mundo e, ao mesmo tempo, ocupa a 84ª posição no ranking de desenvolvimento humano, o professor afirmou que a educação é o único vetor capaz de alinhar o desenvolvimento econômico com o social, mas fez um alerta: “A educação básica ainda não é prioridade da universidade brasileira.”

Considerada a primeira etapa da educação, a educação básica inclui a educação infantil e os ensinos fundamental e médio. Segundo dados apresentados por Mozart, 41% dos professores de Matemática e 61% dos responsáveis por lecionar Física não têm formação adequada. “Não temos um diálogo com a escola pública”, afirmou. Essa opinião foi compartilhada pela vice-reitora, Sônia Báo, ao refletir sobre a responsabilidade da universidade na formação de docentes. "Reclamamos dos baixos níveis de conhecimento básico de Português e Matemática por parte dos alunos que aqui chegam. Devemos levar em conta nossa parcela de responsabilidade sobre este quadro”, declarou.

Outro ponto defendido por Mozart é modernização na relação da educação superior com as empresas. Para o ele, ainda predominam as relações do setor privado diretamente com os pesquisadores e não com a instituição. O professor propõe a criação de câmaras interinstitucionais setoriais em parceria com representantes de empresas e governos. "Precisamos dinamizar essas relações”, propôs. Essa posição foi reforçada pelo reitor Ivan Camargo: "A universidade não pode se fechar nela mesma”.

Mozart Neves Ramos também considera o currículo universitário engessado e sugere a adoção de parâmetros flexíveis e interdisciplinares para uma universidade de vanguarda, assim como a oferta de disciplinas em idiomas como o inglês e o espanhol.

RELEVÂNCIA - Ao parabenizar a UnB pela criação de um espaço para o debate sobre o futuro, Mozart compartilhou com os presentes uma escolha. "Tomei uma decisão radical”, anunciou. O professor afirmou que não mais produzirá artigos científicos em sua área de origem, a Química, passando a dedicar-se integralmente à educação básica no Brasil.

A segunda sessão da Comissão UnB.Futuro foi transmitida ao vivo pela UnB TV e contou com a presença de docentes, estudantes, professores eméritos, do reitor Ivan Camargo e dos ex-reitores João Claudio Todorov e Lauro Morhy. Isaac Roitman, um dos coordenadores da iniciativa, destaca o alto nível das reuniões. "Está sendo gerado um material de alta qualidade, que certamente vai fundamentar as escolhas futuras da universidade”, avaliou. O reitor Ivan Camargo declarou-se satisfeito com os trabalhos da Comissão. "Essa tentativa de olhar para o futuro é uma marca que eu gostaria de deixar na minha gestão”, declarou.


Para o ex-reitor da UnB Lauro Morhy (1997-2005), a Educação é uma das áreas com mais diagnósticos no Brasil. "Faltam ações e participação social”, esclareceu. Todorov fez um alerta para o que chamou de mentalidade burocrática. "Individualmente pensamos coisas fantásticas e dinâmicas”, declarou. “Mas a universidade é conservadora”. O professor emérito José Carmine Dianese (ICB) abordou, em sua intervenção, o fim da eleição para reitores. “Um rigoroso processo de seleção, como nas grandes academias do mundo, colocaria a universidade acima do partidarismo regional”, defendeu.

Ao citar Cora Coralina com o verso “Quer ser universal, conheça seu quintal” o professor emérito Antônio Teixeira (Med) afirmou que a universidade deve parar de defender apenas seus interesses corporativos. “Não podemos ser apenas politicamente corretos”, sentenciou. “Devemos ser exclusivamente corretos”. Teixeira reforça a importância de se voltar para o ensino básico. “A qualidade do ensino básico é mais importante do que o número de matrículas no ensino superior”.

CAMINHOS - A autonomia universitária foi um tema recorrente nos debates desta segunda-feira e está na agenda do próximo encontro. “Trata-se de uma conquista e não só de um direito”, sentenciou Mozart. O professor vê grandes disparidades entre as diversas universidades brasileiras e propõe diálogo com os órgãos de controle. Defensor da autonomia, Lauro Morhy afirmou a necessidade de não se temer arriscar. “Não se muda nada sem uma ação decisiva. O risco existe, e é preciso enfrentá-lo, sob pena de ficarmos estagnados”.

A Comissão UnB.Futuro é coordenada pelo Decanato de Pesquisa e Pós-Graduação (DPP/UnB) em parceria com o Núcleo do Futuro (n-Futuros/CEAM/UnB). A próxima sessão da Comissão está agenda para primeiro de julho às 14h30 no Auditório da Reitoria.

>> Assista a íntegra da segunda sessão aberta da Comissão UnB.Futuro

 


Zapping - UnBTV

Na quarta Sessão Pública da comissão UnB.Futuro Eric Rabkin discutiu as perspectivas da educação para o futuro. Veja a matéria produzida pela UnBTV sobre o evento.

Coordenação:

Decanato de Pesquisa e Pós-Graduação (DPP),  em parceria com o Núcleo do Futuro (n.Futuros/CEAM)

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