Na última sexta-feira, dia 28 de março, o diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Roberto Carvalho de Azevêdo, falou para um auditório de alunos, professores e servidores sobre Comércio Internacional e o papel da Organização. Azevêdo, que é ex-aluno da Faculdade de Tecnologia da UnB, também contou sua experiência de engenheiro que se tornou diplomata.
Ao lado do seu colega dos tempos de graduação e reitor da UnB, Ivan Camargo, Roberto Azevêdo ressaltou que possui excelentes recordações da UnB e que passar pelo campus é sempre uma viagem: “quando eu era aluno da UnB, nunca passou pela minha cabeça que eu seria diplomata ou viraria diretor da OMC. Nunca se sabe do futuro. O que vocês estão fazendo aqui, no fundo, é construindo uma estrutura que vai ser a base para a carreira de vocês”, afirmou Azevêdo, se referindo aos estudantes presentes.
O diplomata cursou Engenharia Elétrica na década de 1970 e chegou a trabalhar por um período na Eletronorte. Acabou, porém, largando a carreira para se tornar diplomata. Explicou que sua decisão foi pautada pelo amor à sua esposa, já que a então namorada havia passado para o Itamaraty e ficaria difícil compatibilizar as carreiras. Por isso, resolveu pensar do ponto de vista prático e decidiu fazer a prova para o Instituto Rio Branco.
Contou que teve dificuldade ao realizar as provas, exatamente pela visão prática aprendida no seu curso de graduação: “ao contrário da engenharia, na diplomacia as perguntas não são para serem respondidas de maneira prática”. Apesar disso, o engenheiro conseguiu passar na prova e tornou-se diplomata, atuando como embaixador do Brasil em Washington (1988-1991) e em Montevidéu (1992-1994) e na Missão Permanente do Brasil em Genebra (1997-2001). Em setembro de 2013 assumiu o cargo de diretor-geral da OMC, após atuar como embaixador durante muitos anos dentro da Organização.
Para Azevêdo, a sua formação como engenheiro contribui muito para a sua carreira como diplomata, já que diariamente precisa utilizar de habilidades aprendidas na graduação. Como exemplos, citou a capacidade de mapear e solucionar problemas e capacidade de conseguir resultados com os materiais que se tem às mãos.
Ao falar sobre Comércio Internacional, o diplomata falou que as pessoas geralmente não têm a noção de como esse tema está presente nas nossas vidas todo o tempo. Isso porque grande parte dos bens que consumimos possuem componentes produzidos em várias partes do globo, e essa produção exige um comércio entre os países.
Nesse sentido, explicou que o papel da OMC é regulamentar e oferecer um foro de discussões para disciplinar as trocas comerciais no mundo inteiro. São 160 países membros, que acordam e dirigem metas e normas para o comércio entre eles. Segundo ele, a estrutura administrativa da OMC não decide nada, já que essa função é dos próprios países membros. Por isso, a função do diretor-geral da Organização é mediar os conflitos e facilitar os acordos, com base em três pilares: 1) monitoramento das discussões entre os países membros; 2) mecanismo de solução de controvérsias para os casos em que não há acordo; e 3) negociação para a adequação das discussões às novas realidades mundiais.
Desde que começou a atuar na OMC, Roberto Azevêdo teve que enfrentar diversos desafios ligados à resolução de conflitos entre os países. Lembrou o episódio da Conferência de Bali, discussão finalizada recentemente, em que logrou um consenso de todos os 159 ministros dos países-membros presentes e que rendeu negociações intensas.
Segundo Roberto Azevêdo, o papel da OMC vem sendo cada dia mais valorizado, e isso pode ser verificado pelo fato de que é recebido por presidentes dos países que visita, algo que não acontecia há alguns anos.
Sobre as relações de comércio internacional brasileiras, o diplomata afirmou que é importante que o país não se restrinja a negociações dentro de um bloco ou de uma região, mas que se trabalhe em um viés mais multilateral, uma vez que temos um comércio bastante diversificado pelo mundo.
O Decano de Pesquisa e Pós-Graduação da UnB e membro da Comissão UnB.Futuro, Jaime Santana, destacou que um dos motivos pelos quais se torna importante a presença de Roberto Azevêdo na UnB é o fato da Universidade “sair de si própria e se aliar a outras instituições. Essa ação também contribui para a internacionalização da Universidade”. Para ele, a UnB tem muito que aprender com palestras como a de Roberto Azevêdo.
Ao final do evento, Roberto Azevêdo recebeu uma placa de homenagem produzida pela Associação de Ex-alunos da UnB. De acordo com Rosângela Barz, presidente da Associação, a homenagem faz parte de um conjunto de ações que a entidade vem promovendo para valorizar os ex-alunos e mostrar que “a UnB vai além da formação técnica, ela também forma cidadãos”.
Confira na nossa Videoteca o Zapping sobre a palestra de Roberto Azevêdo.