Os desafios e as oportunidades para as Ciências Sociais com as mudanças ocorridas nos últimos 60 anos foram o tema abordado pelo sociólogo francês Michel Wieviorka na abertura dos trabalhos de 2014 da Comissão UnB.Futuro. O evento, realizado na tarde do dia 12 de março, foi uma parceria da UnB.Futuro com o Centro de Pesquisa e Pós-Graduação sobre as Américas da UnB (CEPPAC) e também marcou a aula inaugural do Programa de Pós-Graduação em Sociologia.
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Michel Wieviorka atualmente ocupa o cargo de Diretor da Fondation Maison des Sciences de l´Homme (FMSH) na França. Segundo a apresentação da Professora Maria Stela Grossi Porto, do Departamento de Sociologia, Wieviorka é “estudioso e profundo conhecedor de fenômenos como violência, conflitualidade, terrorismo, antissemitismo, diferença, diversidade e migrações” e possui reputação internacional por seu trabalho nessas áreas de pesquisa. Além disso, o pesquisador é o único representante das Ciências Sociais no Conseil Scientifique de l’ European Research Concil (ECR) e é criador e diretor da revista Socio, cujo primeiro número, segundo Stela Porto, “contém um precioso ‘Manifesto para as Ciências Sociais’, escrito em conjunto com Craig Calhoun, abordando precisamente questões da atualidade e do futuro das ciências sociais, aí compreendidos limites e possibilidades”.
Para Rebecca Lemos Igreja, professora do CEPPAC, a presença de Michel Wieviorka no Brasil, e principalmente em debates na UnB, representa grande importância para os estudos realizados no âmbito da Universidade, já que traz um aspecto comparativo entre pesquisas realizadas na Europa e na América Latina. Segundo a professora, citando o discurso do próprio sociólogo, há ainda entre os países europeus, uma resistência a pesquisas realizadas a partir de outros pontos de vista distintos aqueles tradicionais. Por isso, o intercâmbio de experiências entre as pesquisas em Ciências Sociais realizadas internacionalmente pode contribuir para o desenvolvimento do campo.
Em sua exposição, Michel Wieviorka enfatizou que a partir da metade do século passado, com a ruptura de uma perspectiva norte-americana generalizada das Ciências Sociais, essa área de pesquisa tem se transformado de maneira intensa. Segundo o pesquisador, “não é mais possível afirmar que as Ciências Sociais são apenas europeias ou ocidentais”, pois há um acesso crescente da população mundial a outras perspectivas, como aquelas advindas dos países asiáticos, por exemplo. Por isso, segundo ele, temos que pensar o mundo de uma forma mais relativizada e com isso é preciso repensar o universalismo nas Ciências Sociais, levando em conta novos métodos de pesquisa, principalmente em relação às tecnologias de informação e comunicação.
Para Wieviorka, um dos grandes desafios atuais dos pesquisadores das Ciências Sociais é compreender o mundo de forma global, mas ao mesmo tempo levar em conta a individualidade dos sujeitos.: “Se queremos enfrentar este mundo cada vez mais global, devemos partir de cada indivíduo, das ações de cada pessoa. [...] As identidades coletivas só podem ser reconhecidas quando sabemos que há sujeitos individuais se unindo a essas identidades”. Isso porque, na visão dele, os sujeitos se inserem numa identidade coletiva por meio de escolhas individuais.
Wieviorka apresentou propostas para os pesquisadores contemporâneos. Uma delas seria atuar de maneira cada vez mais pluridisciplinar, aliando e articulando conhecimentos de diferentes áreas nas investigações. Outra alternativa seria reagir a um relativismo em que há a ideia de que cada um no seu campo possui a verdade, sem se preocupar com o que as outras áreas desenvolvem.
Uma maneira alternativa de pensar e pesquisar exige o desenvolvimento de métodos que se adaptem a essa nova realidade. Nesse sentido, o palestrante discorreu sobre aspectos relacionados às mudanças advindas da utilização do mundo digital e da inserção de tecnologias de informação. Segundo o Wieviorka, hoje, com o crescimento da internet, os pesquisadores possuem muito mais recursos para complementar seus objetos de estudo. O professor citou como exemplo os Big Data, que são ferramentas que permitem o armazenamento de dados pessoais dos usuários da internet, possibilitando, por exemplo, que empresas possam descobrir interesses específicos de seus clientes e direcionar seus produtos de acordo com esses interesses.
Para o sociólogo, essas ferramentas trazem aos pesquisadores ao mesmo tempo problemas relevantes e grandes oportunidades. O problema seria o fato de que as companhias podem utilizar acesso de maneira desigual, e isso gera desafios políticos científicos frente ao perigo de monopólio por parte dessas empresas. As oportunidades estariam ligadas à questão de que os pesquisadores, principalmente aqueles ligados ao campo das Ciências Sociais, podem utilizar esses mecanismos de forma a contribuir com suas investigações. Wieviorka concluiu dizendo que “podemos criticar muito a utilização que tem sido feita das novas tecnologias, mas a universidade e as pesquisas também podem se beneficiar muito dessas ferramentas”.
A próxima Sessão da Comissão UnB.Futuro está programada para 25/2 às 10 horas no Auditório da Faculdade de Comunicação. O professor Andrew Feenberg (Simon Franser University) vai participar de debate sobre “As Tecnologias da Comunicação e da Informação e a Universidade do Futuro”.
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